"Num mundo cada vez mais digital, uma pessoa dá por si a ter uma certa vontade de ser mais analógica."
- Passa-me o telefone, por favor.
- Não tens saudades de quando escrevíamos cartas? De quando esperávamos ansiosos por uma resposta, de ponderar no que escrevíamos naquela letra tão cuidada?
- Não. Perdíamos imenso tempo. Liga-me isto à tomada, que preciso de pôr o computador a carregar.
- E não sentes falta de teres de ler e pesquisar em livros, em vez de automaticamente copiares a informação que procuras? Agora a internet tem tudo, as pessoas nem precisam de sair de casa para terem o que procuram.
- Como te disse, isso veio-nos poupar imenso tempo e trabalho.
- Como é que pode ser cansativo ir a uma biblioteca folhear livros e estar rodeado daquele cheiro hipnotizante? Agora há cada vez menos pessoas a ler, a ter livros na mão. Arranjam documentos no computador e acham que é igual. Até os jornais ficam abandonados nas bancas, porque se tem tudo no computador ou telemóvel.
- Se o que temos agora é muito mais prático, porquê voltar atrás? Diz-me algo de mau que a tecnologia tenha trazido.
- Está a destruir o planeta e a deixar-nos doentes.
- Para isso temos a medicina que cada vez está mais evoluída, Temos tudo ao nosso alcance.
- E com isso as pessoas vivem cada vez mais fechadas em si. Cada um quer mais posses, consumidores que nunca estão satisfeitos. Um por si, e todos por eles próprios. Temos tudo ao nosso alcance, e no entanto, vivemos mais infelizes que nunca.
Pela priimeira vez neste blog, não posso deixar de discordar violentamente com a ideia que o texto passa. Espero que nenhum dos "colegas" de blog me leve a mal, mas acho que a crítica é importante sendo honesta e fundamentada, seja ela positiva ou negativa. Aliás, não espero menos de vocês no que eu próprio escrevo. Acho que concordar e elogiar só porque sim é um insulto à inteligência. Perdoem-me então se me alongo, asm achei importante.
ResponderEliminarExiste um velho princípio que diz que uma mentira suficientemente repetida se torna uma verdade. Um exemplo é a história de "os nossos avôs eram mais felizes e vivam melhor". Ou seja, que quando a vida era mais simples, as coisas eram mais bonitas. E isso não só é completamente falso, como é de uma ingratidão incrível.
Por isso, gostava de fazer notar que:
- Qualquer um pode escrever cartas (felizmente hoje temos Word, para ajudar a pessoas com a caligrafia ininteligível que eu tenho), se não for preguiçoso. O computador não é a antítese do papel. É, quanto muito, um complemento.
- Continua-se a pesquisar em livros, a ler livros, e essas coisas todas. Mas por favor... Não sendo ingénuos, quem é que algum dia pôs os pés em bibliotecas? Quem é que lia todos os jornais (ou sequer um por dia)? Haveria meia dúzia de pessoas, por certo. Só que essa meia dúzia, das duas uma: ou faziam-no mais por necessidade profissional do que por lazer, ou então eram pessoas que sempre tiveram acesso à cultura. Essas pessoas detinham todo o poder. A Internet aproximou a informação de quem não a tinha, porque os jornais são caros, os livros também, e passar tempo em bibliotecas, para o comum dos mortais, é uma seca. A Internet é um instrumento de poder para quem precisa dele. Hoje já não temos que confiar em quem lia jornais e formulava opiniões. Podemos ir directamente às fontes.
- Mas o pior de tudo, e que me motivou a escrever este e-mail neste tom, é que (e passo para outra linha para isto ficar claro):
O planeta NÃO está a morrer!
Nós NÃO estamos a ficar mais doentes!
Esta litania ambientalista é a pior doença contagiosa que conheço. A nossa esperança de vida nunca foi maior. O nosso conhecimento dos sitemas naturais nunca foi tão profundo. É ingrato para quem passou a vida a trabalhar em medicina que se propaguem visões catastrofistas destas.
- Não estamos mais infelizes do que as gerações passadas. Isso parece assim pela mesma razão pela qual os jardins da nossa infância pareciam maiores, os amigos mais honestos, a música mais bonita, e a televisão com mais qualidade. É um erro de perspectiva, uma romantização dos aspectos memoráveis (porque a nossa memória é associativa, ela passa sempre por processos de reconstrução internos).
Eu não sou de defender o status quo. E sei que nem todo o digital é bom, e espírito crítio é sempre necessário. Mas se as pessoas "vivem mais fechadas em si", e se estamos numa sociedade de consumo, culpar a tecnologia é inventar o bode expiatório mais trivial. (In)felizmente, a realidade é bem mais complexa que isso.
Bem Ricardo, antes de mais, acho que ninguem leva a mal a tua critica, visto que é isso mesmo, uma critica.
ResponderEliminarDepois, gostaria de dizer que concordo contigo. A ideia que me passou deste texto foi muito proxima da tua e nao poderia rever-me mais em todas as observações que fazes.
Por fim, acho que é melhor sermos salvos pela critica do que arruinados por um falso elogio e espero que se mantenha este nivel de sinceridade e honestidade no blog para que possamos verdadeiramente evoluir.
Ines
Estive para deixar um comentário da primeira vez que li o texto, mas acabei por não o fazer por não saber exactamente que palavras escolher.
ResponderEliminarNo entanto, quero dizer que concordo com o que disse o Ricardo. Acho que foi a primeira vez que um texto ( independentemente da boa ou má escrita) neste blog passou um mensagem com a qual eu não concordo e não me revejo.
Não querendo fazer deste blog um blog de criticas sociais, não posso deixar de promover todas as críticas que possam surgir sobres os textos futuros ( incluindo obviamente os meus).
Olá a todos. Eu gostava já agora de expressar também a minha opinião, no entanto devo dizer que não concordo totalmente com o que tem sido dito aqui, a vários níveis:
ResponderEliminar1 - Acho que o texto não deve forçosamente rever a opinião do escritor, ou não fosse este um blogue de escrita criativa livre, onde a pessoa pode escrever o que quiser. E sim, eu sei que o Ricardo em nenhum momento tornou pessoal a crítica que fez, mas ainda assim não sei até que ponto devemos criticar textos que, não sendo (ou podendo não ser) artigos de opinião ou de opinião disfarçada, não passam disso mesmo, de meros textos de escrita criativa. Ainda assim, concordo com o que disseram: devemos estar à vontade para expressarmos a nossa opinião sobre os textos dos outros, claro.
2 - Quanto à feroz crítica do Ricardo - e devo dizer que do alto do meu provincianismo qualquer crítica que me obrigue a ir ao dicionário ver uma palavra é para mim uma crítica feroz - eu acho que rotular como ingratidão o acto de pensarmos que *muitas* coisas eram antigamente melhores que hoje é uma solução fácil para os nossos problemas de hoje em dia. E foquei a palavra "muitas" porque parece-me que todos somos sensatos o suficiente para não generalizar este tipo de opiniões. Mas sim, eu concordo que há *muitas* coisas que antigamente eram melhores e que faziam de nós pessoas melhores. E não é uma questão do "tempo dos nossos avós", a mim basta-me recuar ao "tempo dos nossos pais". E vejam coisas tão simples como a qualidade dos livros que hoje em dia povoam as prateleiras, ou o respeito que se dá na estrada, ou mesmo o culpar a crise pela pioria nas condições de trabalho daqueles que efectivamente trabalham. Outras, obviamente, como a Internet, o telemóvel, os computadores e os computadores portáteis, o quanto o nosso mundo ficou pequenino com os avanços na aviação, os medicamentos, os avanços na medicina, etc, apresentam obviamente grandes melhorias em relação ao "antigamente". Mas não generalizemos por favor. Dizer que tudo está melhor que antigamente é como dizer que um Nespresso é tão bom quanto uma bica - e nem me façam entrar por aí!
3 - Finalmente, apenas uma palavra ao que disseste, Ricardo, do planeta estar ou não a morrer. Parece-me a mim que a mesma simplicidade com que veementemente afirmas que o planeta não está a morrer te situa exactamente no mesmo sítio que as pessoas que veementemente defendem (e justificam, como acredito que tu também justificarias) a opinião contrária.
Dito isto, peço também desculpa à Diana por estar a escrever ainda mais no teu post, de qualquer das formas respondeste, na minha opinião, bem à ideia que eu dava no tema, apenas se calhar não esperaste esta inflamação da plateia :)
Como o meu comentário foi mais curto que o dos restantes, senti-me tentada a incendiar um pouco mais a plateia =)
ResponderEliminarFico contente que (finalmente!) tenhamos dicussões mais interessante do nosso blog! Em relação aquilo que o Tiago escreveu, eu gostaria de dizer:
- É verdade que aquilo que é escrito na 1ª pessoa não é forçosamente aquilo que o autor pensa. Mas todos conseguimos discernir quando uma determinada opinião está a ser passada, quer seja escrita na 1ª pessoa ou não. E neste caso, claramente era, até porque como no fim dizes, o texto e a mensagem da Diana transpunham a tua ideia orginial.
- Obviamente que agora começamos a entrar num campo subjectivo, mas eu de facto não concordo com a tua opinião sobre o "antigamente". Em todos os tempos e em todos os momentos, há sempre coisas boas e más. Mas dar demasiada enfâse ás (pequenas) coisas boas é uma forma de travar a evolução.
Porque tudo é uma questão de balanço, e feito o balanço o "hoje" é muito melhor do que o "ontem".
O saudosismo dos tempos antigos, faz-me sempre lembrar este provérbio ( que um dia, vou deixar a um de vós como desafio):
"Ter saudades do passado é como correr atrás do vento".
Ora, por pontos então:
ResponderEliminar1 - A Alice já disse tudo. Parabéns à Diana por ter tido esse mérito de finalmente nos ter posto a discutir ideias.
2 - Eu sei que existe tecnologia inútil e perigosa; isso é algo com que já o Eça ironizava na "Cidade e as Serras". E portanto a avaliação deve ser feita caso a caso. Tudo isso é óbvio. De tal forma concordo, que o texto está construído sobre exemplos, e o que eu fiz foi precisamente criticar os exemplos, e rematar no fim com uma avaliação da ideia geral que ele passa. Para além disso, no texto as personagens não dizem só "eu preferia ainda ir às vezes a bibliotecas" - enaltecem características objectivas das bibliotecas, dotam-nas de propriedades (o cheiro agradável dos livros). E eu já rebati os exemplos um por um, portanto reforço só que a ideia geral que resulta disso é que a tecnologia, em geral (e é óbvio que todos nós admitimos excepções mesmo às nossas regras gerais), trouxe algo negativo. Foi contra isso que me insurgi. Como ainda não vi resposta a nenhum dos meus argumentos, repito: a romantização do passado é tendenciosa e tem a ver com aspectos associativos da memória. É um enviesamento de perspectiva. Para que não seja preciso ir ao dicionário para entender o que isto quer dizer, uso os mesmos exemplos já dados:
- Não conheço um único indicador objectivo que indique que os livros hoje são piores. Eu sei que assim parece (a mim também), mas não podemos ser ingénuos nem demasiado rápidos a avaliar. O que acontece é que do passado só chegam até nós os livros memoráveis. Os outros perderam-se, ninguém lhes liga, e por isso parece que tudo o que se escrevia dantes era maravilhoso. Para além disso, o que hoje há é muita gente a escrever. Isso faz com que exista mais "lixo". Agora, em número total de escritores (ou livros) com qualidade, espero que me mostrem alguma fundamentação que são menos (qualidade, neste sentido, não implica "eu gosto disto", implica aceitação geral e persistência com o tempo). Agora, pode é não se gostar dos estilos literários contemporâneos. Mas isso é uma questão de puro gosto, como preferir-se Nespresso ou bicas. Isso é o que eu considero um gosto e não uma opinião. Um gosto é visceral e não processado (por muita artilharia intelectual que o justifique "a posteriori"). Uma opinião é uma conclusão, é estabelecida por razões ou sentimentos, mas é retirada de um conjunto de premissas. Um gosto é de tal forma subjectivo que não me merece nem discussão.
- Da mesma forma, é extremamente duvidoso que se conduza pior hoje, ou mesmo que isso aconteça que seja por motivos tecnológicos (nesse caso, é por motivos sociais ou psicológicos). Sim, os automóveis hoje são mais velozes. Mas também o são os protocolos de segurança (quantas vidas salvou o cinto?), os traçados das estradas, etc. De qualquer forma, se fizermos a proporção de acidentes e mortos na estrada por veículo a circular, duvido que se veja a taxa a aumentar com o tempo. E para além disso, estamos em Portugal, o campeão de mortes da estrada. Portanto, temos uma perspectiva enviezada (negativamente) quanto a este assunto (social outra vez...).
- Quanto a "culpar a crise pelas condições de trabalho", não entendi o que tem a ver com a discussão inicial.
ResponderEliminar3 - Venham esses argumentos e essas justificações! Tipicamente quando se começa a discutir com alguém com esse tipo de visão, a entrada é de leão e a saída de cordeiro. Começam com "o planeta está a morrer", e após questionados acabam com "existem problemas ambientais aos quais temos que dar resposta, seja agora, seja no futuro". Mas com isso eu também concordo. Toda a gente concorda. Agora que as frases "o planeta está a morrer" e "estamos a ficar doentes" são simplesmente falsas, tanto quanto podemos racionalmente saber e defender, e tanto quanto o conhecimento nos permite afirmar algo com segurança, isso não há politicamente correcto que faça com que deixe de o dizer. Alguém brilhante o disse antes de mim. Devemos ter a mente aberta, mas não tanto que nos caia o cérebro.
Termino só esclarecendo o mesmo que já tinha dito na minha mensagem inicial. A última coisa que eu faço é defender o status quo, ou achar que tudo no Mundo é maravilhoso ou que sequer vai por um bom caminho. Eu pessoalmente acho exactamente o contrário. E sei que a tecnologia tem enormes defeitos, lacunas, inutilidades e em muitos casos piorou-nos a vida. Mas culpar-se a tecnologia em geral é um caminho perigoso e ingrato, sobretudo nos termos e com os exemplos em que estava feito no texto, porque como até o Tiago reconhece na resposta as "tencologias" que eram criticadas são avanços positivos.
E isto não é uma questão de gosto. Discutir-se a Internet ou a medicina (que são questões sérias) não é como discutir a Nespresso (que é uma questão de puro gosto/paladar). Eu não gosto de telemóveis, conheço-lhes os perigos (sociais), e não é por isso que sou injusto com quem desenvolveu uma tecnologia tão útil e vou dizer que antes dos telemóveis é que se estava bem. Não podemos confundir gostos com opiniões, muito menos com avaliações de desempenho ou com filosofias de vida. Fazê-lo seria como classificar o cinema de hoje como uma porcaria porque só se gosta de filmes mudos.
- Pronto, eu apenas dei alguns exemplos específicos para melhor explicar o meu ponto de vista, e não para discutir sobre eles. Foram apenas os primeiros que me vieram à cabeça quando eu estava a contra-argumentar. Para mim é importante não generalizar as coisas... mas admito que discutir exemplos é penoso e grande parte das vezes inútil.
ResponderEliminar- Quanto ao ambiente e ao planeta, eu não vou entrar nessa discussão, porque não tenho o mínimo de conhecimentos para tal. De onde eu estou sinto não que o planeta esteja a morrer, mas que de alguma forma está doente, seja provocado por acasos ou por actos propositados. Mas sinceramente acho que há opiniões a mais a circular para eu próprio conseguir formar uma.
- Vou-vos explicar o que me chamou a atenção nesta frase do Nuno Markl: na verdade acho que às vezes vamos atrás de novas tecnologias só pela piada ou pela curiosidade, e por vezes esquecemo-nos que se calhar também gostávamos de como as coisas eram antes, ou de como as fazíamos antes. Há uns tempos fui a um fórum do meu grupo musical preferido e perguntei se havia pessoas com vinis deles, e se sim, se valia a pena realmente em relação aos CDs. Uma pessoa respondeu-me "se vale a pena ou não, não sei, mas eu tenho-os todos porque de alguma forma acho sexy ter de virar o álbum a meio". Pronto, foi esse tipo de ideia que me motivou a gostar desta frase.
- Lúcia, o que eu queria dizer era exactamente isso: o facto de eu ter dado um tema e concordar com ele (porque eu admito que concordo com a frase), não quer dizer que a Diana concorde. No entanto pode escrever um texto concordando na mesma. Era apenas isso que eu queria dizer :)
=)
ResponderEliminarTiago, mas o ponto é esse... eu consigo olhar para a tua frase e arranjar um fundo de verdade nela. O exemplo que deste dos vinis é um excelente exemplo ( e no qual eu me revejo).
A escrita é criativa e por isso, tens várias formas de olhar para os temas dados. Não existe simplesmente o concordar ou discordar.
O que eu critiquei no texto da Diana, foi justamente a visão dela da tua frase.
Precisamente. Não poderia estar mais de acordo. Há formas de interpretar aquela frase com que eu concordaria completamente. O exemplo do vinil é um deles. Mas o exemplo do vinil é bom porque é pessoal. A tónica está na pessoa. O texto não está escrito nesse tom. Está a fazer juízos universais sobre o Mundo inteiro, sobre as pessoas que não vão a bibliotecas, e o Mundo que está a morrer.
ResponderEliminarSe alguém me diz "eu gosto de vinis", não tenho nada a dizer. Se alguém me diz "o vinil está a morrer porque as pessoas não lhe ligam", aí eu tenho um problema. Não estou com isto a defender que sejamos cobardes e não tentemos entender mais do Mundo do que os nossos gostos imediatos simplesmente porque caímos sempre no relativismo. Pelo contrário - acho que mais vale tentar, falhar, gerar a discussão e aprender. E por isso eu gosto de generalizações. A minha crítica tem a ver com o facto destas generalizações estarem, como penso que já me alonguei demais a justificar, erradas.
Admito que foi algo difícil pegar nesta frase, porque eu sou uma típica filha das tecnologias. Não vivos em elas, sou dependente. Portanto, embora conseguisse ver certos aspectos em que concordava com o tema, na sua maioria não conseguia.
ResponderEliminarMuitos dos aspectos que abordei foi do que eu vejo em meu redor, da perspectiva e das pessoas que conheço. Se vissemos a minha turma toda, encontrariamos 3 ou 4 dentro de 25 que gostam de ler livros. Se tanto dizem que os jovens são o futuro, apenas aponto que na sua maioria eles já não querem saber de ler, para o seu bem ou não.
No entanto, acho que a sociedade está sim a ficar "doente". É aquele espírito consumista, a pressão da sociedade. Pode ser inconsciente, mas toda a gente já se sentiu um pouco menos feliz, mais inferior por não ter X ou Y. Por não poder comprar aquilo ou outra coisa. Antes não havia hiper-mercados com metros e metros das mesmas coisas, não havia essa quantidade nuclear de bens à venda. E, a meu ver, não havia tanto a necessidade de os ter apenas porque sim.
Talvez "o planeta está a morrer" seja demasiado exagerado. Mas bem não está com certeza, basta olhar pela janela fora. E a culpa não é do acaso, é sim do abuso da tecnologia. E há muita gente a tentar melhorar a situação. É apenas um facto que o planeta não está nas suas melhores condições.
Como disse no início, as opiniões do texto não são exactamente as minhas. Aliás, como disseste Ricardo a nossa memória é associativa, e eu provavelmente não tenho a experiência suficiente para poder falar do que falei no texto. É apenas uma opinião, um ponto de vista, um texto criativo.
Eu discordo bastante quando falas da sociedade consumista. Sobretudo quando dizes que nos sentimos pior quando nao podemos comprar x ouy.
ResponderEliminarDiscordo. Consumismo talvez seja o nome dado no seculo XXI mas creio que é uma tensao que sempre existiu na humanidade. Essa troca desmedida do ter em vez do ser.
E o consumismo nao é cosnequencia da evoluçao da tecnologia. Grande parte das pessoas nao se sabe orientar, nao se sabe organizar. E liberta-se o caos.
O que esta mal hoje, sempre esteve e de certo modo vai sempre estar. Essa ideia de que as pessoas erram pela evoluçao soa me sempre mal.
As pessoas erram porque nao sao perfeitas. E perante a inovaçao da tecnologia, como em qualquer outra inovaçao, formam-se dois blocos: os que concordam e os que discordam.
A Inês tem toda a razão. O que está mal (se alguma coisa) encontra-se escondido em cada um de nós, e não é amplificado pela tecnologia nem pelo passar do tempo. Cansa-me ver estes exemplos batidos, recortados de referências de jornalistas, que são inteiramente falsos.
ResponderEliminarPortugal é o país onde se vendem mais livros na Europa, e simultaneamente aquele onde menos se lê. Apesar desta contradição, que diz muito deste país, mesmo assim lê-se mais hoje do que já se leu. As bibliotecas e os hábitos de leitura estão completamente dissociados, porque nunca houve, em tempo algum, um hábito de ir buscar livros a bibliotecas públicas.
Ler é importante, sim. Mas ler e gostar de ler são diferentes. Já agora, alguém é mais burro por não gostar de ler? É que ler aborrece-me tremendamente, e no entanto não deixo de o fazer. Não vejo prazer nenhum no cheiro dos livros, consumo-os como artigos educativos. Quem me quiser dizer que sou mais estúpido por isso, bring it on. I'll fight you everywhere (intelectualmente, claro). E... oh, vejam só! Já estamos a falar de gostos. Mas afinal de contas o que é que esta conversa desinteressante sobre livros tem a ver com tecnologia? Absolutamente nada.
E depois a eterna ladainha do consumismo. O consumismo, mesmo para quem acha que ele existe, não se deve à tecnologia. A tecnologia trouxe-nos os telemóveis. A "culpa" de haver n tipos de telemóvel com modelos diferentes é do marketing. Goste-se ou não se goste, isso responde a algo que (como a Inês disse e bem) está dentro de nós. A necessidade está cá. Os gadgets são só a forma contemporânea de suprir essa falta. E SEMPRE foi assim! Esta ideia peregrina de agora as pessoas se sentirem mal por não possuírem bens soa-me sempre a ignorância histórica.
E não posso nem aceitar que alguém me diga que os hipermercados são coisas más. Para burgueses bem instalados na vida, talvez. Talvez para gente que consome produtos hiper-inflaccionados no comércio tradicional, onde pagamos demais e ainda nos devassam a vida pessoal. Agora, os cidadão normais que não têm dinheiro nem paciência, esses agradecem todos os hipermercados que nos construam. E, DE NOVO, que raio tem isto a ver com a tecnologia?! Nada de nada.
Também é fantástico insistir-se na ideia que a tecnologia está a pôr o planeta em algum "mau estado". É absurdo dizer-se isso quando são os avanços tecnológicos que permitem hoje termos técnicas agrícolas sustentáveis (será que nos estamos a esquecer que os animais emitem mais gases de efeito de estufa que os transportes, minha gente?), e que até os automóveis hoje poluam muito menos que os de há apenas 40 ou 50 anos atrás. Esta argumentação cai pela base. Só sendo-se facilmente impressionável pelo ambientalismo pop da imprensa é que se continua a perpetuar mentiras tão evidentes, sem um mínimo argumento (como já se viu) que o suporte.
Ao contrário da Diana, eu não acho que as opiniões sejam "apenas" opiniões. Enfim, que se há-de fazer? É o meu tique pessoal irritante. Há quem fique satisfeito a contemplar o maravilhoso espectáculo do Mundo (ou não, porque afinal ele era bem melhor era no antigamente... eheheh), e há quem ande estupidamente a achar que pode pelo menos fazer alguém reflectir. Da minha parte, não consigo nem quero deixar de elogiar as coisas que me parecem bem, e criticar sem tréguas as que estão demasiado erradas. Isso é o que podem continuar a esperar de mim.