Expira. Sustém a respiração.
Sempre tive dificuldades em entender exactamente a mecânica dos gestos mecânicos. Quanto mais penso neles, menos jeito tenho em fazê-los. É como as pedras. Dizem que as palavras são pedras, que se as repetimos muitas vezes elas tornam-se entidades amorfas e sem sentido. Quando penso em controlar a respiração deixo de conseguir fazê-lo. Quando penso que andar é meter uma perna à frente da outra, deixo de ser capaz de andar. Quando me fixo numa pessoa, parece que já nem a conheço. E quando procuro muito um objectivo muito específico na vida, parece que já nem sei porque o queria.
Expira. Sustém a respiração.
E isso deixa-me paralisado. Sempre necessitei de andar pela vida como um zombie. Sempre me foi completamente essencial ter mil coisas na cabeça, olhar para todo o lado, abstrair-me da vida e do Mundo e até de mim. Se por momentos me engano, e penso muito numa coisa só, os membros tolhem-se-me, as ideias fogem-me, e cai-me o chão que piso em cima da cabeça.
Expira. Sustém a respiração.
E é assim com tudo. Ter só um trabalho, ter só um ponto de vista, ter só um plano de vida, tudo isso me congela. É como se me afundasse. É como se ao olhar só para um bocadinho de céu em vez de ver o globo terrestre todo caísse dentro de um poço, do qual não consigo sair. É como se caísse no fundo de uma piscina porque me fixo nos gestos de nadar. E páro. Quando se pára de nadar vai-se ao fundo.
Expira. Sustém a respiração.
E quando estou no fundo do poço, não há nada a fazer. Preciso sempre que me vão buscar. Preciso sempre de um estímulo exterior que me acorde do transe e me mostre tudo o que há no Mundo.
Expira. Sustém a respiração.
Expira. Sustém a respiração.
Expira. Sustém a respiração.
Até hoje, encontrei sempre alguém que me lançou uma bóia e puxou de dentro da piscina.
Inspira.
"Você está bem? Você parou de nadar e foi ao fundo, homem!"
Gostei imenso do teu texto =)
ResponderEliminarApreciei a pequena distorção que fizeste à frase, dando-lhe ainda mais enfase.
Muito Bem!