"If I had a world of my own, everything would be nonsense. Nothing would be what it is, because everything would be what it isn't. And contrary wise, what is, it wouldn't be. And what it wouldn't be, it would. You see?"
Abriu a porta e fechou-a.
Aquele mundo nunca lhe fez sentido. Na maior parte dos dias, vagueava entre as outras pessoas de forma estranha. Como se precisasse de andar para se manter no mesmo sítio.
Sentou-se. Fechou os olhos e sentiu as viagens nas pálpebras. Sim, para sair dali, teria de permanecer quieta entre a multidão.
Aquele mundo nunca lhe fez sentido. Por isso nunca se tornou real.
E ela manteve-se num estado latente de quem espera acordar de um sonho. Tinha aquela fina persistência no olhar de quem não dá relevância a flores que não falam.
Ás vezes via borboletas no ar. Outras, pensava em torradas. Visualizava ambas com a mesma intensidade morna. Nada lhe era tão estranho, com a própria estranheza húmida que escorria dos habitantes daquele mundo.
Quem lhe dera acordar daquele sonho. O pior é que eles sonhavam com ela. E por vezes aquela realidade translúcida, onde ela não sabia quem era, era só isso, o sonho deles. Que ela penosamente vivia.
Por várias vezes sentiu-se tentada a acordá-los. Mas teve medo da reacção catastrófica: e se afinal ela não fosse mais nada para alem daquele sonho?
Até que um dia, a libertação deu-se: ao virar da esquina pareceu-lhe conhecer as costas que o seu ângulo via. O que viu na verdade foi um propósito suculento. Uma ambição curiosa de descobrir um enigma.
Correu atrás daquelas costas, primeiro devagar depois mais depressa. De repente deu consigo a cruzar a cidade axadrezada. As pessoas pareciam-lhe todas peças de xadrez, umas com mais inteligência do que outras para não serem peões
As costas familiares iam desaparecendo no meio daquele enevoado de sonho. Ela corria, corria, e surgiram no ar as palavras “Quem és tu?” Mas ela não sabia, e não queria olhar para o céu. Queria encontrar aquelas costas, mais do que queria entrar amanhã no autocarro, ir trabalhar, ganhar dinheiro, casar-se e ter filhos. Queria agarrar aquela pessoa como não queria nada e sentia a o coração a percorrer-lhe o corpo.
Fazia-lhe sentido.
E foi sem espanto que viu as costas que espreitava do seu ângulo, entrarem em sua casa. Abrir e fechar a porta. Ela seguiu-as. E quando chegou à sala, viu o espelho enorme e gigante que tinha comprado para ocupar toda a parede. Do lado de lá, ouviu a rapariga que perseguira dizer: “Olá Alice”. Então seguiu em frente, atravessou o espelho e nunca mais voltou.
Aquele mundo nunca lhe fez sentido. Na maior parte dos dias, vagueava entre as outras pessoas de forma estranha. Como se precisasse de andar para se manter no mesmo sítio.
Sentou-se. Fechou os olhos e sentiu as viagens nas pálpebras. Sim, para sair dali, teria de permanecer quieta entre a multidão.
Aquele mundo nunca lhe fez sentido. Por isso nunca se tornou real.
E ela manteve-se num estado latente de quem espera acordar de um sonho. Tinha aquela fina persistência no olhar de quem não dá relevância a flores que não falam.
Ás vezes via borboletas no ar. Outras, pensava em torradas. Visualizava ambas com a mesma intensidade morna. Nada lhe era tão estranho, com a própria estranheza húmida que escorria dos habitantes daquele mundo.
Quem lhe dera acordar daquele sonho. O pior é que eles sonhavam com ela. E por vezes aquela realidade translúcida, onde ela não sabia quem era, era só isso, o sonho deles. Que ela penosamente vivia.
Por várias vezes sentiu-se tentada a acordá-los. Mas teve medo da reacção catastrófica: e se afinal ela não fosse mais nada para alem daquele sonho?
Até que um dia, a libertação deu-se: ao virar da esquina pareceu-lhe conhecer as costas que o seu ângulo via. O que viu na verdade foi um propósito suculento. Uma ambição curiosa de descobrir um enigma.
Correu atrás daquelas costas, primeiro devagar depois mais depressa. De repente deu consigo a cruzar a cidade axadrezada. As pessoas pareciam-lhe todas peças de xadrez, umas com mais inteligência do que outras para não serem peões
As costas familiares iam desaparecendo no meio daquele enevoado de sonho. Ela corria, corria, e surgiram no ar as palavras “Quem és tu?” Mas ela não sabia, e não queria olhar para o céu. Queria encontrar aquelas costas, mais do que queria entrar amanhã no autocarro, ir trabalhar, ganhar dinheiro, casar-se e ter filhos. Queria agarrar aquela pessoa como não queria nada e sentia a o coração a percorrer-lhe o corpo.
Fazia-lhe sentido.
E foi sem espanto que viu as costas que espreitava do seu ângulo, entrarem em sua casa. Abrir e fechar a porta. Ela seguiu-as. E quando chegou à sala, viu o espelho enorme e gigante que tinha comprado para ocupar toda a parede. Do lado de lá, ouviu a rapariga que perseguira dizer: “Olá Alice”. Então seguiu em frente, atravessou o espelho e nunca mais voltou.
Eu adorei este texto! É um dos teus melhores textos.
ResponderEliminarTalvez porque li a Alice ou porque concordo plenamente que este mundo nao faz sentido, so posso dizer que gostei imenso deste teu texto.
Nada de tristeza, nada de melancolia. E no entanto, elas estao lá.
Muito bom!:)
Nunca gostei tanto de um texto que me engana. Este texto corre e foge por entre os dedos enquanto o perseguimos, em vão tentando entender os seus pormenores. Fantástico! :)
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