quinta-feira, 11 de março de 2010

Desafio XII - Resposta

"Youth is a wonderful thing. What a crime to waste it on children."

Devagar muito devagar, primeiro na mente, depois nas mãos, executou a tarefa meticulosa de identificar e isolar aquele perfume. Procurava-o há anos, tornou-se ele na própria obsessão daquele cheiro, como se fosse perseguido a toda a hora por memórias tão duras que lhe construíam o presente.
Aquele cheiro de liberdade, onde as manhãs eram iguais às tardes, o riso desenfreado quando perseguia borboletas livres. Era o cheiro do não-futuro, da eternidade do segundo, renovada em cada golfada de ar respirada.
E esse era um cheio de morangos silvestres desenhados nas janelas, de castanhas quentes comidas com cascas. Era um cheiro da chuva de manhã, quando saltava por cima das poças de água nos caminhos enlameados. Ou um cheiro do calor de Junho, da cola e do papel de lustro. Um cheiro longo dos vestidos que usava nas peças de teatro (e esse era o único passado permitido).
Sabe também que cheirava à madeira do cesto de vime onde estava a comida. Ao chocolate misturado com nozes que partilhava. Às aventuras dos seus sonhos quando era um explorador.
Quando conseguia cheirar tudo isto. E não ter consciência de nada.
Mas agora, finalmente conseguira recolher meticulosamente todos estes pequenos cheiros. Demorara anos a reuni-los, a conseguir a proporção correcta. Aquela essência era agora sua. Outra vez.
Que desperdício gastar toda aquela pureza nas crianças.
E foi por isso que quando, na sua pequena sala, abriu finalmente o frasco para libertar uma gota daquela essência, o cheiro libertado foi o de umas flores banais. Afinal, era a essência dele que devia ter permanecido.

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