And the road becomes my bride
I have stripped of all but pride
So in her I do confide
And she keeps me satisfied
Gives me all I need
Talvez tenhas uma casa.
Talvez.
Dou-te essa dúvida, como te podia dar qualquer coisa. Esgotas a minha paciência com a tua necessidade de isolamento. Mas eu dou-te essa e não te dou mais nenhuma. Porque na verdade, tu não sabes nada.
Achas que tens uma casa porque vives numa. Tal como céu é azul.
Disseram-te isso um dia e tu registaste e catalogaste, como tantas outras informações que tens armazenadas no compêndio do teu cérebro. Um cérebro gigante, que foi crescendo de factos esporádicos e hoje é tão oco quanto o de um puro ignorante. Com a diferença que o ignorante não me esgota a paciência como tu, não me obriga a usar dúvidas.
Não, tu não tens uma casa. Tu tens uma mobília encarniçada com uma cama onde dormes enrolada no conforto que elaboras todas as manhãs. Tens uma varanda solarenta onde estendes a roupa e onde colocas algumas plantas que regas com a tua própria existência.
Abres os olhos de manhã, vês o mesmo ângulo sentes-te em casa. O coração não se mexe, é a tua casa. Olhas pela janela ensonada de ti mesma e sentes compaixão por quem anda aí, sozinho. Pela estrada.
É nesta altura, nesta precisa altura em que sentes esta compaixão pormenorizada, que toda a minha paciência para a tua existência se esgota.
Porque tu nunca serás como ele. E a tua existência é miserável como uma onda banal, umas seis que chega à praia. Porque nunca serás independente com coragem para seres um nómada que caminha no Mundo colhendo os seus frutos suculentos: o mistério do Mundo não está em lado nenhum. Nunca serás um nómada permanentemente confortado com as suas pegadas. Que está sempre quente. Que está sempre aconchegado. Porque ainda que esteja na rua, ele tem junto a si, ele próprio.
E tu? Tu fechas-te em casa, dás várias voltas à chave e ligas o aquecedor. Não para estares em casa. Não para teres uma casa. Mas para mascarares o pesadelo diário que é conviveres contigo.
A estrada é o orgulho dele. Porque ele efectivamente caminha.
I have stripped of all but pride
So in her I do confide
And she keeps me satisfied
Gives me all I need
Talvez tenhas uma casa.
Talvez.
Dou-te essa dúvida, como te podia dar qualquer coisa. Esgotas a minha paciência com a tua necessidade de isolamento. Mas eu dou-te essa e não te dou mais nenhuma. Porque na verdade, tu não sabes nada.
Achas que tens uma casa porque vives numa. Tal como céu é azul.
Disseram-te isso um dia e tu registaste e catalogaste, como tantas outras informações que tens armazenadas no compêndio do teu cérebro. Um cérebro gigante, que foi crescendo de factos esporádicos e hoje é tão oco quanto o de um puro ignorante. Com a diferença que o ignorante não me esgota a paciência como tu, não me obriga a usar dúvidas.
Não, tu não tens uma casa. Tu tens uma mobília encarniçada com uma cama onde dormes enrolada no conforto que elaboras todas as manhãs. Tens uma varanda solarenta onde estendes a roupa e onde colocas algumas plantas que regas com a tua própria existência.
Abres os olhos de manhã, vês o mesmo ângulo sentes-te em casa. O coração não se mexe, é a tua casa. Olhas pela janela ensonada de ti mesma e sentes compaixão por quem anda aí, sozinho. Pela estrada.
É nesta altura, nesta precisa altura em que sentes esta compaixão pormenorizada, que toda a minha paciência para a tua existência se esgota.
Porque tu nunca serás como ele. E a tua existência é miserável como uma onda banal, umas seis que chega à praia. Porque nunca serás independente com coragem para seres um nómada que caminha no Mundo colhendo os seus frutos suculentos: o mistério do Mundo não está em lado nenhum. Nunca serás um nómada permanentemente confortado com as suas pegadas. Que está sempre quente. Que está sempre aconchegado. Porque ainda que esteja na rua, ele tem junto a si, ele próprio.
E tu? Tu fechas-te em casa, dás várias voltas à chave e ligas o aquecedor. Não para estares em casa. Não para teres uma casa. Mas para mascarares o pesadelo diário que é conviveres contigo.
A estrada é o orgulho dele. Porque ele efectivamente caminha.
Esta é a minha música/letra favorita dos Metallica. Sempre que me sinto acomodado e resignado à minha condição neste lugar e nesta vida, coloco-a no repeat, e ela lembra-me afinal o que é que eu quero da vida. Deixa-me, então, alongar-me sobre ela.
ResponderEliminarPara mim, o Mundo divide-se claramente em dois: aqueles a quem esta música faz sonhar, e inspira o mesmo tipo de reprovação da normalidade que tu escreveste; e aqueles que olham para a letra como uma espécie de utopia distante de marginais totalmente indesejável, e que são as pessoas que tu descreves no teu texto.
Qualquer pobre coitado pode olhar para si mesmo e achar que tem uma vida especial, como forma de se auto-justificar numa existência miserável feita de lugares-comuns, de sonhos e projectos banais. E essas pessoas são as que descreves aqui. Essas são as pessoas que nunca entenderão que a ideia que anima esta música é possível. Essas são as pessoas que nunca terão vidas inusitadas, nem darão passos irrepetíveis. E ainda que vivam muito até serem muito velhos e muito inúteis e muito "cheios de si mesmos", nunca inspirarão ninguém. É triste, na verdade, que nunca se entenda o que faz um barbudo de guitarra mover mais gente do que um consultor ou um advogado meticulosamente treinado para dominar o seu pequeno Mundo.
E para mim é fantástico saber que há mais alguêm a quem este verdadeiro cântico sagrado dos Metallica inspira exactamente a mesma recusa do conformismo na banalidade. Confesso este enviesamento, mas ainda assim não deixo de te dizer que adorei o teu texto. Talvez o traduza e envie ao próprio James. :P
Bem... sinto-me na profunda obrigaçao de dizer que esta musica mudou a minha vida.
ResponderEliminarPorque nao poderia estar mais de acordo com ambos. Ha dois tipos de pessoas, as que se deleitam na inspiraçao que esta musica transmite. E as que a tomam como profundo exagero.
Sinceramente, Alice, honras-te muito a musica. Sem duvida que o James se sentiria feliz por saber que a mensagem dele é aproveitada!Para alem do que o texto chega a ter aquele riff de guitarra tao caracteristico. Despreocupado, livre. Mas duro e incisivo.
Gostei!
De referir o meu erro no honraste. Estava a pensar em escrever outra coisa e ja nao corrigi a tempo...
ResponderEliminarHonraste muito o texto!