sábado, 17 de abril de 2010

Desafio XVII - Resposta

Lembro-me exactamente do dia em que te conheci. Desse dia em que soube que a vida e a morte eram a mesma coisa e tu eras ambas. O que disseste estava para além do mundo óbvio, construído de monotonias diárias. Lembro-me da tua cor, num mundo a preto e branco demasiado bolorento.
Lembro-me exactamente de saber que um dia ia arrepender-me de ter conhecido. Tive essa consciência, a mesma que tenho agora, de que nunca devíamos ter trocado de corações naquele momento. Um olhar trocado teria servido para várias noites de paixão.
Mas tu eras a inevitável morte que eu dolorosamente esperava. A faca que um dia cortaria os meus pulsos sob o meu próprio prazer. Eras a vida em cada lâmina de sol que insuflavas nos meus pulmões.
Fizemos tantos planos...
Hoje, fecho os olhos e desejo que nada disto tivesse acontecido. Foram demais todos esses planos, porque hoje vejo-os em cada esquina da rua. Vejo-os em cada cigarro que fumo. E tornei-me nesta pessoa, que não passeia e não fuma para não realizar planos que fez contigo. Para não se lembrar da tua cor esbatida, num mundo que escureceu.
De que valeu todo aquele amor? Nunca foi suficiente.
Essa é a verdade. O amor não serve para nada.
Se servisse, eu não precisava de estar nua aqui deitada debaixo dos lençóis, a dizer-lhe que o amo, quando o coração que me bate é o teu.

1 comentário:

  1. Este teu texto é para o poema do JLP o mesmo que o feminino é para o masculino. Escreveste o complemento perfeito, escreveste de uma forma muito mais calma, ponderada, quase melancólica, aquela que era a ideia de base da provocação que te deixei. E eu adorei ler. :)

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