(A origem do Mundo)
Foi o meu primeiro namorado.
O amor escorregava-nos das mãos desastradas. Éramos dois inexperientes com vontade de tentar e por isso cada gesto tosco tinha um gosto especial. Reunimos, sem saber, as condições que fazem duma receita a melhor do mundo.
Foi a primeira vez que senti um descontrolo das minhas veias e um bater do coração que me assustou como se a morte tivesse chegado.
E depois foi a tua mão no ombro, aquele abraço apertado antes da música que circundava a casa que cheirava a cera. O teu perfume que cheirava a cera como a casa. Dançamos num jardim onde as rosas espreitavam invejosas o nosso amor inocente. E depois fugimos para aquele recanto, tu descobrias quem eu era e eu sabia que a morte afinal era o maior prazer que podia ter.
Tudo foi virgem e solitário, impregnado dum suor delicioso que ainda hoje existe quando abro a caixa das recordações e vejo a tua fotografia naquela tarde.
E sempre que a vejo, amo-a perdidamente.
Porque foi a primeira. E foi ali que tudo começou. A origem do meu mundo começou contigo e com o teu beijo de saliva que cheirava a futuro.
Só que na verdade foi só isso. O amor que arde por tudo quanto foi maravilhoso é uma bala disparada eternamente. E se por um acaso me desligar desse fotografia que me traz a origem, não há muito que fique da tarde que passei contigo. Ela existe em mim desta forma, porque foi a primeira.
Porque a origem do Mundo não é mais do que uma coisa tremendamente feia e desconcertada, errada em cada segundo de existência. Mas porque é a origem do futuro, torna-se linda.
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