terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desafio XXXVII - Resposta

Estava lá sentado calmamente. Confortavel e dístraído enquanto o vento marítimo brincava com o seu cabelo vermelho. Parecia absorto do mundo que escorria debaixo dos olhos de mar dele. A vida que sustentava a existencia da praia era lhe tao distante e estava tao perto.
Tinha sempre momentos daqueles em que o mundo circundante tornava-se desfocado porque estava em auto-reflexao e não se apercebia do quanto atraia as mulheres com a sua beleza peculiar e postura carismática. Não queria saber, intrinsecamente, sabia so por respirar que nenhuma delas o interessava.Se fossem carismáticas não se exibiam daquela forma tao banal.
E esta percepção sempre foi a sorte estranha que o acompanhou. Não era sortudo numa tonalidade aleatoria, tinha sorte aos jogos que exigiam um raciocinio astuto. Alias, era mestre nesses jogos que favoreciam quem tinha uma percepçao perspicaz rapida da realidade. Ele era um estratego brilhante. Insconscientemente, inatamente, inocentemente brilhante.
Bebeu devagar o café. Fumou devagar . Deuses, ele tinha sorte ou já não estaria vivo. Mas, ao mesmo tempo, tinha mérito. Era mestre em aproveitar as oportunidades que surgiam quando nasciam dos seus dedos. Sempre foi mestre em morrer honradamente pelo ideal que o move. Sempre procurou problemas existenciais que lhe acrescentavam uma certa irresponsabilidade e sempre teve perspicácia suficiente para aprender com eles e sair vivo assumindo-se na maior plenitude de toda a liberdade que podia ter. E isto não foi sorte, a sorte vem depois. Sempre foi uma mistura de favorecimento não-aleatório do Universo com a mente aberta e astutamente perspicaz dele.
A vida continuava a escorrer na praia, eram os ultimos dias de Verão. O mar nunca parecia tao bonito como nos ultimos dias de Verao. O fim das coisas enche-as de uma beleza utopica.
E ele sempre teve esta mente minuciosa e consciente. O mar de Inverno, violento e triste, sempre o fascinou mais. O mar de Inverno era so seu porque ele era dos unicos que amava verdadeiramente o mar. E isto não é sorte a sorte vem depois.
Encostou-se para tras e riu-se baixinho e discretamente. As mulheres que o rodeavam devem ter pensado que era louco e ele confirmou a sua teoria. So um louco reconhece outro louco e se sente tao confortavel ao ponto em que descobre que loucos são os que não são loucos. São tao desinteressantes que são loucos, negativamente. Como elas. Vazias. Se não fossem inócuas seriam loucas e se fossem loucas o não encontravam atraentemente louco. Viam alguem igual a elas.
Conseguia, no final, nunca errar um pensamento sensorial porque, sempre brilhante, começava por se deixar fascinar por aquilo que passa despercebido a maioria das pessoas. Os pequenos pormenores que ninguem considera relevantes . Não tinha sorte, tinha sorte por saber esmiuçar espontaneamente as oportunidades que o espirito dele criava.
Sentou-se de novo direito na cadeira. Era uma sorte gostar mais do mar de Inverno. Não era uma sorte ser o ser que ama o mar, que procura o sentimento de paz e faz da praia um Santuário. Isto não é sorte, é ele que é este ser suficientemente astuto para ser abençoado com a sorte.

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