terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desafio XXXIX- Resposta

Ele amou-te mas que importa isso para ti? Nada. Disse-te que o amor era inutil para ele , que era irrelevante. E quando um dia se foi embora, nunca mais voltou. Nunca mais voltou para ti. Mas para ti o amor não era inutil nem irrelevante. O amor era tudo o que te fazia levantar da cama no dia seguinte. E o amor dele, o ser dele, era o teu sol de Verão que aquece e ilumina.
Mas nunca mais ele telefonou. Nunca mais lhe ouviste o riso alto e exótico. Nunca mais viste o seu rosto tao belo, tao peculiar e desumanamente belo. Porque quando se foi embora, deixou-te o pedaço de coraçao de pano negro dele que te pertencia. Para nunca mais voltar. Porque o amor para ele era inutil mas sabia que para ti não era, tornou o sentimento real , para não ficares com nada. Amava-te, ele, te nunca esqueças disso. So que já não pode voltar.
Mas, às vezes, quando caminhavas na rua e alguem se parecia com ele uma esperança moribunda e triste nasciate no peito, os teus dedos ganhavam vida. O coraçao entregava-se ao fogo expectante e ardia de tristeza. Porque não era ele, sabias que não era ele. Mas o teu ser preferia essa ilusao, essa pequena ilusao de felicidade durante uma fracçao de tempo. Porque já nem o consolo da ausencia de vida tinhas, tinhas menos do que nada e nada disto é possivel. Tinhas muito menos do que nada e, nesses momentos, abrias o cofre e seguravas com carinho o pedaço de coraçao de pano dele. Era tao fragil e ele é este ser, que um dia se foi embora e no dia anterior já não estava mais contigo.
O tempo passa sempre e congela sempre a dor mais crua e aguda. A tua memória dele tornou-se desfocada, perdeu nitidez. Deixaste de te lembrar exactamente de quem ele era, deixaste de ter um referencial para procurar. Continuaste à espera do telefonema mas como nunca o recebeste habituaste-te a não espera-lo.
E , um dia, ias a caminha na rua e ouviste o riso dele. O teu coração reconheceu-o de imediato. Lembraste-te que nunca te telefonou e que agora estava ali, igual ao que sempre foi. E deste-lhe o teu pedaço de coraçao de pano que lhe pertencia, que lhe pertenceu durante todos estes anos porque tu já não eras tu. Porque ele era o teu Sol de Verão e na ausencia dele tornaste-te na pessoa que ama o Inverno. A memoria dele passou a ser desfocada, o teu coraçao ardeu. Tu já não és tu por todas as noites que não dormiste à espera do telefonema dele, do telefonema que ele te prometeu que nunca faria.
Ele tornou o teu amor inutil.

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