sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Desafio XXXI - Resposta

A busy life is a wasted life


Faço isso muitas vezes. Sento-me nas estações de metro e deixo-os passarem.

Hoje é um dia particularmente quente. Levo a mão ao peito e sinto restos de um coração que se está a derreter. Hoje, deixei-me ficar na estação e passaram todos os metros por mim. É assim que o mundo se inverte e que de certeza sou eu a passar pelos metros e pelas pessoas que me espreitam.

Hoje deixei-me levar pelos metros que foram passando. E esqueci-me da hora. E o coração começou a derreter.

Normalmente, costumo viajar por toda a cidade. Normalmente, aceito desafios para ocupar a mente e me esquecer das coisas em que penso quando me sento nos bancos do metro. Normalmente até faço desporto. Até aprendo línguas. Normalmente até vou á universidade. Normalmente até vou ao ginásio ou ao curso de teatro.

Normalmente até tenho uma vida ocupada. E chego a casa à noite e estou tão cansada que adormeço sem saber quem sou. E quando acordo de manhã, entre a pressa das gotas do duche, vou olhando para a casa e reconhecendo os contornos de uma mobília que já não me lembro que comprei.

Mas como o meu coração nasceu gelado, esta eficiência tem de ser quebrada de vez quando. Porque é para isso que ela serve, para ser quebrada. E entre as finas frestas de gelo da minha vida ocupada, nascem estes momentos de verdade nas estações de metro. Estas ilhas de consciência num mar de ócio de ocupação. Onde está a vida e o seu coração futurista.

A minha maior qualidade sempre foi a minha tendência para a ineficiência.
Só que hoje abusei dela e o meu coração quase derreteu.

1 comentário:

  1. Há muitas formas de interpretar esta frase. As que eu considero mais interessantes são aquelas que giram em torno do que se pode considerar efectivamente o "estar ocupado" ou o "fazer alguma coisa". Grandes escritores e grandes cientistas afirmam que necessitam do ócio para que as ideias se formem. Obviamente quando nos entregamos demasiado a esses momentos "ineficientes", eles começam a destruir-nos. Mas afinal se estamos a "pensar", se estamos a "ocupar o tempo", como por exemplo numa estação de metro, isso não será já fazer alguma coisa? Onde acaba a obrigação e começa a distracção?

    Gostei muito do teu texto. Porque ele, apesar de ter uma direcção definida, fomenta a dúvida. E a minha intenção original com esta frase era essa mesmo: não dar uma resposta, mas levantar uma questão.

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