terça-feira, 17 de agosto de 2010

Desafio XXXII- Resposta

Tu mentes e às vezes a mentira é inocente, é ingénua. Ás vezes a mentira é uma ilusão que gostavas que fosse verdade. Tu mentes as vezes para não teres a consciencia bruta de que o fogo consome a tua existencia, de que vai consumir a tua vida. Entao mentes, talvez procures mais tempo para descobrires como consertar-te. Talvez queiras acordar já queimado e desfeito e dedicaras-te a lamentar e a sobreviver.
Mas não ele. Bem, talvez procure enganar-se tanto como tu ( não tentamos todos?). Talvez tambem seja invadido por esse conceito de um melhor ideal que sustenta a mentira mais simples. Mas tem momentos de dura lucidez, de consciencia em estado cristalino e bruto. E apercebe-se que mente, mente para fugir à dor. Tenta enganar-se a si proprio para não descobrir que é um animal civilizado. Mais, que somos todos isso. E quase endoidece e depois apercebe-se que é a verdade que o endoidece, a realidade irrefutavel. Ao menos que fosse a mentira a trai-lo. E ele perde-se na traição cuja ignição foi a cobardia legitima dele. E entao pega na folha de papel a sentir-se doido. Não, doido não. Louco. Absolutamente louco. E escreve, escreve até a verdade que o traiu por ser demasiado feia em comparação com a mentira tao bela sair da pele dele. Da mente. Da consciencia aguda .
Tu mentes e esperas que a mentira te consuma, esperas que essa ilusao se apodere da tua vida e que a queime. Quando acordas para lavares o rosto em vergonha já é demasiado tarde. O fogo já consumiu tudo e tu nem sabes quem é a cinza que inicou o processo.
Ah mas ele sabe. Foi aquela fracção de segundos em que teve consciencia que a verdade enlouquecia.Aquele momento curto e singular em que se apercebeu que teria sido mais facil se nunca tivesse cedido a tentaçao da mentira salvadora que é sempre ilusao. E escreveu, escreveu sobre os pensamentos à flor da pele. E libertou-se porque desmentiu a verdade crua e incisiva que vive em qualquer boa mentira.
Tu mentes e queres convence-lo de que ele e tu são iguais. Mas ele nada tem que ver contigo, separa-se no momento em que escreve. Porque ele é um poeta e tu não passas de alguem que não aguenta e suporta ser quem é. Mas ele é um poeta, quando a vida arde irremediavelmente, a poesia magnifica que escreve em momentos que se sente louco é a cinza desse fogo clarividente. É nesse momento que descobre que não é louco, minimamente. Quando tudo o resto arde, a poesia é a evidencia elegante da vida. É a pequena cinza irrefutavel que tu não consegues descobrir em ti porque preferes uma mentira boa a uma verdade dura.

Sem comentários:

Enviar um comentário