O meu amor tem duas vidas para amar-te
Por isso te amo quando nao te amo
e por isso te amo quando te amo
Há momentos em que não te amo. Em que te desprezo, em que fluis na direcção contrária à minha. Em que me entorpeces os músculos. Em que os meus cigarros parecem flores ao pé do teu hálito.
Nesses momentos pondero silenciosamente colocar as minhas mãos no teu pescoço e com uma carinhosa maldade ver-te deixar a minha vida. Expurgá-la das tuas ideias e das tuas não-ideias que não deixam um centímetro de vazio dentro de mim. E eu gosto de uma boa explosão no vácuo do meu cérebro de vez em quando.
E vejo-te a desaparecer do meu horizonte com toda a minha solidão espalmada. A plenitude da minha tristeza mais áspera do que agressiva a crescer-me pelo corpo. A mágoa do meu destino infeliz enraizada nesta ideia de que ele é infeliz.
Sempre foi assim, eu sempre fui esta pessoa triste. Demasiado igual aos outros para conseguir argumentar a sua diferença. Demasiado só.
E demasiado qualquer coisa para mudar o que quer que seja. A vida feliz e o céu azul são pedaços esporádicos duma vida que espreito pela janela, mas que nunca poderá ser minha. Que nunca quero que seja minha.
E quando quebras este meu amor desmiolado, eu sinto a urgência feroz de um contra-amor que destrua tudo.
Mas o meu destino é tão infeliz, que nos meus poucos momentos lúcidos compreendo que não há altura em que te ame mais do que esta, em que não te amo.
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