terça-feira, 20 de julho de 2010

Desafio XXVIII- Resposta

Ele ate lamenta. Apesar de o lamento ser artificial. Tem de lamentar, ou que justificaçao existiria? Não que ignorancia seja felicidade, apenas prefere uma mentira bem intencionada a uma verdade intrinsecamente cruel. Porque uma mentira é so uma mentira se não a acreditares...
Mas tu acreditaste. Nunca compreendeste. E ele tem de lamentar isso para ser coerente, mesmo que o lamento seja esteril. Perdeste-te neste mundo inocuo e oco. Depois da aparencia nada mais existe. Perdeste-te neste mundo que é futil. Mas superficial e futil não são sinonimos, não existem sinonimos . E ele disse-te, avisou-te tantas vezes ... Sentou-se inumeras vezes contigo na mesa daquele café, dissecou a filosofia que sustentava a visao dele. Repetiu-se e repetiu-te que somos animais ainda, somos animais conscientes de si proprios, dos seus desejos. Das suas ambiçoes. Dos seus terrores nocturnos. Mas somos animais ainda. Civilizados, disciplinados, apenas. Disse-te que tinhamos guardado na alma restos do instinto primitivo. E esse sexto sentido inato guia-nos . Orienta-nos no nosso Norte que é a auto-realizaçao, o amor proprio, um narcisismo egocentrico correctamente equilibrado . Disse-te incontaveis vezes para deixares os teus sentidos fluirem e avaliares a situaçao com o que sentes, com o que pensas em primeiro lugar. Disse-te para não julgares, para não teceres raciocinios. Disse-te para avaliares a aparencia, o que ves. O que ouves. A primeira impressao é a mais importante. Nunca te despegas da primeira impressao. Ele disse-te tantas vezes isto...
E , ironicamente, naquele café, agiu contra a sua filosofia. De todas as vezes que te tentou explicar o que é quase obvio. De todas as vezes que insistiu contigo. Foi uma contradiçao, uma incoerencia. Porque a primeira impressao que teve tua, o som que lhe propocionaste, foi que nunca ias compreender. Que estavas dentro desta sociedade , aprisionada na sua mentalidade. O que discordavas racionalmente, concordavas sensorialmente.
Por isso ele não lamenta. Não verdadeiramente. Porque, tal qual como tu, ele regressou ao estado de sintonia com o ego que tem no peito. Um dia deixou de ir ao café explicar-te o que não querias compreender, elucidar-se a si proprio. Um dia não apareceu. Um dia a tua aparencia venceu. Um dia teve coragem para aceitar que te amava mas que nunca serias mais do que alguem que nunca compreende o que a move.
E , pela primeira vez, inconsciente ou conscientemente, deste-lhe razao. No dia em que ele não apareceu no café o teu coraçao descontrolou-se e gritaste num som mudo que ele sempre fora aquilo. Ainda bem que cumpria a aparencia que tinha, um ser que vive como se fosse embora amanha.
Ele lamenta ter desejado lamentar a tua perda. Mas agradece-te, tornaste-o um devoto à filosofia que defende. A ilusao da ilusao arruinou a memoria que tem tua.

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