Era a primeira vez que sentia aquilo em muito tempo. Aquela doce sensação de existir.
Era a primeira vez em muito tempo que a noite era tão agradável, tão tranquila. Tão iluminada. E tão friamente escura.
Mas apercebia-se que os transeuntes o olhavam com bastante desagradado, a um ponto de sentirem um profundo medo. O cabelo muito negro e desalinhado, o rosto muito branco e consciente de que o mundo ainda respira. A postura, segura, leve como uma pena, quase maliciosa.
Mas ocasionalmente o rosto dele ficava debaixo de um candeeiro e eles viam os olhos: azuis abertos, claros vivos, eram a metáfora do mar em tudo o que o mar significava. E temiam-no verdadeiramente quando o enfrentavam assim. Desumanamente belo. Inteiramente de si próprio.
E ele sorria. Não chegava sequer a importar-se. Estava vivo, existia. Sentia a noite a acariciar-lhe o rosto, as mãos. O espírito. Deixava-se deslumbrar pela beleza da lua envolvida no seu manto negro. Se o céu não fosse tão escuro e se o luar não fosse tão mais fraco que a luz do Sol a noite não era tão. Mágica.
Porque ele era o inverso dos outros. O Sol cansava-o , cegava-o. O dia tendia para a monotonia, para uma rotina inquebrável mesmo quando era quebrada. O dia tendia para um detalhado fingimento em garantir uma ilusão. Patética. De dia via-se tudo, fazia-se tudo. E ninguém está mais próximo do tudo do que o nada.
Sabia que os transeuntes naquela noite e qualquer pessoa durante o dia o olhavam como se fosse aberração.
Talvez fosse.
Mas era primeira vez que sentia aquilo em muito tempo: a beleza de um pormenor a quem só lhe é dada a devida importância quando o que resta é a simplicidade crua. Era a primeira vez em muito tempo que o vento fresco gélido lhe beijava a face. E como era deslumbrante observar a persistência patética de uma sociedade patética iluminado por um simples e tímido candeeiro! Os outros eram indefinidamente engolidos pela escuridão. Nasceram ignorantes e morrerão ignorantes porque a solução vive sempre no pormenor perdido na caótica escuridão. E vale a pena morrer por se ser um candeeiro numa noite negra, suficientemente forte para não ser absorvido pela depressão da noite, arruinando o Sol. A beleza está na simplicidade, a solução está no ponto brilhante que sobressai explosivamente no negro. Nada é mais necessário que amar a escuridão para se ser intrinsecamente feliz.
Era a primeira vez em muito, muito tempo que se lembrava de que amava a noite, aromática, fria ao som do tímido luar.
Era a primeira vez em muito tempo que a noite era tão agradável, tão tranquila. Tão iluminada. E tão friamente escura.
Mas apercebia-se que os transeuntes o olhavam com bastante desagradado, a um ponto de sentirem um profundo medo. O cabelo muito negro e desalinhado, o rosto muito branco e consciente de que o mundo ainda respira. A postura, segura, leve como uma pena, quase maliciosa.
Mas ocasionalmente o rosto dele ficava debaixo de um candeeiro e eles viam os olhos: azuis abertos, claros vivos, eram a metáfora do mar em tudo o que o mar significava. E temiam-no verdadeiramente quando o enfrentavam assim. Desumanamente belo. Inteiramente de si próprio.
E ele sorria. Não chegava sequer a importar-se. Estava vivo, existia. Sentia a noite a acariciar-lhe o rosto, as mãos. O espírito. Deixava-se deslumbrar pela beleza da lua envolvida no seu manto negro. Se o céu não fosse tão escuro e se o luar não fosse tão mais fraco que a luz do Sol a noite não era tão. Mágica.
Porque ele era o inverso dos outros. O Sol cansava-o , cegava-o. O dia tendia para a monotonia, para uma rotina inquebrável mesmo quando era quebrada. O dia tendia para um detalhado fingimento em garantir uma ilusão. Patética. De dia via-se tudo, fazia-se tudo. E ninguém está mais próximo do tudo do que o nada.
Sabia que os transeuntes naquela noite e qualquer pessoa durante o dia o olhavam como se fosse aberração.
Talvez fosse.
Mas era primeira vez que sentia aquilo em muito tempo: a beleza de um pormenor a quem só lhe é dada a devida importância quando o que resta é a simplicidade crua. Era a primeira vez em muito tempo que o vento fresco gélido lhe beijava a face. E como era deslumbrante observar a persistência patética de uma sociedade patética iluminado por um simples e tímido candeeiro! Os outros eram indefinidamente engolidos pela escuridão. Nasceram ignorantes e morrerão ignorantes porque a solução vive sempre no pormenor perdido na caótica escuridão. E vale a pena morrer por se ser um candeeiro numa noite negra, suficientemente forte para não ser absorvido pela depressão da noite, arruinando o Sol. A beleza está na simplicidade, a solução está no ponto brilhante que sobressai explosivamente no negro. Nada é mais necessário que amar a escuridão para se ser intrinsecamente feliz.
Era a primeira vez em muito, muito tempo que se lembrava de que amava a noite, aromática, fria ao som do tímido luar.
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