terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Desafio III- Resposta

Ela está só. E isso doi-lhe mais do que lhe dói a mediocridade que é. A solidão corrói-a , acrescenta rancor e agressividade a uma existência que , por si só, já era pateticamente dependente. Dependente da ilusão de não estar só.
Mas ele deixou-a só! Era certo que ela o não amava, era certo que ele a fazia sentir pouco. Demasiado pouco. Mas ela so queria não estar só e os homens existem para isso. Para as mulheres não se sentirem sós dentro da sua solidão (ridícula), para as mulheres se sentirem bem consigo próprias.
Mas ele deixou-a só e ela não aguenta a projecção da realidade crua no espelho. Estar só. Ela queria ultrapassar isto, esta dor insuportável de um fim que não existe, queria ser melhor que ele. E então sentiu-se bem, com poder, sentiu que gostava de si própria. O suficiente para se vingar dele.
E então tornou-se numa fonte inesgotável de estupidez, de vingança e de um qualquer conceito de vazio que se apoderou dela. Tornou-se num quadro triste, horrível e pitoresco.
Ela nunca o perdoo por te-la deixado so. Ela não o amava mas era suposto? Ela so desejava companhia e estabilidade. E amor. De um qualquer tipo.
Um dia procurou-o. Encontrou-o com uma outra mulher. Bonita na sua simplicidade, exótica na sua inteligente e perspicaz espiritualidade. E viu-o a ele, ainda mais bonito. Estava completo, ela completava-o, ela não lhe era pouco. Então olhou-o nos olhos e disse-lhe que os homens não passavam de um acidente biológico, de um erro a nível de cromossomas. Eram uma aberração andante, emocionalmente incapazes, eram a doença da humanidade.
E ele limitou-se a olha-la nos olhos e a rir-se. Demasiado e demasiado alto. A rapariga que o acompanhava olhou-a com verdadeira compaixão.E pena. Por isso é que lhe pôs a mão no ombro como se lhe desse uma péssima noticia.
Ela era pouco. Ate para ela própria.


"The male is a biological accident(...). In other words, the male is an incomplete female, a walking abortion, aborted at the gene stage. To be male is to be deficient, emotionally limited; maleness is a deficiency disease ..."
(Valerie Solanas, Scum Manifesto, London, Olympia Press, 1971)

1 comentário:

  1. Talvez porque eu sempre tive uma visão pouco simpática sobre as mulheres ou talvez porque o teu texto é bom, o certo é que gostei muito.

    A verdade é que as generalizações são perigosas. Mas as mulheres habituaram-nos demasiado a essas reacções fúteis.
    E as essas reacções tristes de quem só não quer estar só.

    São estas mulheres que merecem os homens que existem. Tal como o feminismo merece definitivamente o machismo.

    =)

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