"Faithless is he that says farewell when the road darkens."
J. R. R. Tolkien
J. R. R. Tolkien
A neve cercava-os. E enterrava-os até muito acima do tornozelo. A pequena floresta onde estavam, apenas um pequeno aglomerado de árvores que conheciam desde a infância nas traseiras da casa, estava coberta de neve pela primeira vez em muitos anos. Nenhum deles realmente se lembrava de alguma vez a ter visto assim, embora aquele não fosse o motivo que os levava ali. O silêncio, como sempre numa paisagem branca, era avassalador. Era como que uma amostra do fim do mundo, do fim do desenho, quando não há mais história nem mais tinta, e fica apenas o papel branco.
A infância já lá ia há muitos anos, e ambos tinham crescido. Ambos tinham seguido diferentes caminhos, ambos abandonaram a aldeia com diferentes objectivos. O namoro dos tempos de escola passara, assim como muitas paixões depois dessa. Ambos tinham vivido muito desde o namoro da escola. Ambos tinham vivido mais de quinze anos desde então. Por vezes tinham-no vivido juntos. Por vezes às escondidas de tudo e de todos. Nem todos os caminhos foram os melhores. Nem sempre nos cruzamentos da vida tinham tomado os melhores caminhos.
Ela lembrava-se perfeitamente daquela noite, dois anos antes. O telefone tocou enquanto ela trabalhava horas extraordinárias que nunca lhe seriam pagas, à luz de um velho candeeiro, olhos cansados postos no computador. Não reconheceu o número. Atendeu. Do outro lado, uma sombra de homem pedia-lhe ajuda. Não era longe. Não tinha mais ninguém. Vergonha demais para pedir ajuda. Onde estava? Não estava… A sombra em que ele se tinha transformado jazia num velho vão de escada de um velho prédio na zona velha da cidade. E ela não teve como dizer que não. Eram quatro da manhã quando finalmente o recolheu, o aqueceu, e lhe emprestou a sua casa. Nunca o faria se não nutrisse por ele a maior das amizades e o maior dos carinhos. Apenas ela, sabia-o agora, viu na sombra dele o homem que ele fora, e o homem que ele poderia ter sido. Apenas ela sentiu um profundo amor por ele. De novo.
Depois ele ficou melhor. O calor dela aqueceu-o, não só por fora mas também por dentro. Recompôs-se. Voltou para a aldeia, foi recebido pelos pais que o acharam magro, mas bem. Desconheciam tudo o resto. E tudo ficou bem.
Mais que o branco e o silêncio, o frio enregelava-os. Ela trazia a sua roupa de Lisboa, e ele vestia uma coçada roupa de campo. Mas ele já não era de novo o mesmo homem. Ela tinha sabido assim que o vira naquele Inverno. Tinha sentido. Sentido a sombra de novo a apoderar-se dele. Mas desta vez ela não estaria cá para ele. E sim, ela sabia como ele precisava dela. Como ela era o seu pilar, presente ou ausente do seu dia-a-dia.
Tinham ido à floresta conversar naquele dia de rigoroso Inverno. Ela arranjou uma oportunidade de trabalho. “Em Lisboa?”, perguntou ele. “No Japão”, respondeu ela, sem conseguir esconder o quanto lhe custava dar a notícia. Na cara dele viu-se o choque, depois a profunda tristeza e desespero. Depois o silêncio. O longo silêncio. Depois veio a revolta. A impotência.
- “Desleal é aquele que se despede quando o caminho escurece.”
Uma lágrima criou-se e desceu pela cara dela. Grossa, longa. Tão longa quanto a tristeza de de novo o ver assim. Tão longa quanto a desilusão de de novo ver cair sobre ele uma escura e profunda sombra. Mas já tinha decidido. Não iria voltar atrás. Não desta vez.
- “Talvez. Mas não jure caminhar no escuro aquele que não viu cair a noite.”
De novo o silêncio. Antes de voltar para casa, ele olhou de novo em volta. A neve cercava-os.
A infância já lá ia há muitos anos, e ambos tinham crescido. Ambos tinham seguido diferentes caminhos, ambos abandonaram a aldeia com diferentes objectivos. O namoro dos tempos de escola passara, assim como muitas paixões depois dessa. Ambos tinham vivido muito desde o namoro da escola. Ambos tinham vivido mais de quinze anos desde então. Por vezes tinham-no vivido juntos. Por vezes às escondidas de tudo e de todos. Nem todos os caminhos foram os melhores. Nem sempre nos cruzamentos da vida tinham tomado os melhores caminhos.
Ela lembrava-se perfeitamente daquela noite, dois anos antes. O telefone tocou enquanto ela trabalhava horas extraordinárias que nunca lhe seriam pagas, à luz de um velho candeeiro, olhos cansados postos no computador. Não reconheceu o número. Atendeu. Do outro lado, uma sombra de homem pedia-lhe ajuda. Não era longe. Não tinha mais ninguém. Vergonha demais para pedir ajuda. Onde estava? Não estava… A sombra em que ele se tinha transformado jazia num velho vão de escada de um velho prédio na zona velha da cidade. E ela não teve como dizer que não. Eram quatro da manhã quando finalmente o recolheu, o aqueceu, e lhe emprestou a sua casa. Nunca o faria se não nutrisse por ele a maior das amizades e o maior dos carinhos. Apenas ela, sabia-o agora, viu na sombra dele o homem que ele fora, e o homem que ele poderia ter sido. Apenas ela sentiu um profundo amor por ele. De novo.
Depois ele ficou melhor. O calor dela aqueceu-o, não só por fora mas também por dentro. Recompôs-se. Voltou para a aldeia, foi recebido pelos pais que o acharam magro, mas bem. Desconheciam tudo o resto. E tudo ficou bem.
Mais que o branco e o silêncio, o frio enregelava-os. Ela trazia a sua roupa de Lisboa, e ele vestia uma coçada roupa de campo. Mas ele já não era de novo o mesmo homem. Ela tinha sabido assim que o vira naquele Inverno. Tinha sentido. Sentido a sombra de novo a apoderar-se dele. Mas desta vez ela não estaria cá para ele. E sim, ela sabia como ele precisava dela. Como ela era o seu pilar, presente ou ausente do seu dia-a-dia.
Tinham ido à floresta conversar naquele dia de rigoroso Inverno. Ela arranjou uma oportunidade de trabalho. “Em Lisboa?”, perguntou ele. “No Japão”, respondeu ela, sem conseguir esconder o quanto lhe custava dar a notícia. Na cara dele viu-se o choque, depois a profunda tristeza e desespero. Depois o silêncio. O longo silêncio. Depois veio a revolta. A impotência.
- “Desleal é aquele que se despede quando o caminho escurece.”
Uma lágrima criou-se e desceu pela cara dela. Grossa, longa. Tão longa quanto a tristeza de de novo o ver assim. Tão longa quanto a desilusão de de novo ver cair sobre ele uma escura e profunda sombra. Mas já tinha decidido. Não iria voltar atrás. Não desta vez.
- “Talvez. Mas não jure caminhar no escuro aquele que não viu cair a noite.”
De novo o silêncio. Antes de voltar para casa, ele olhou de novo em volta. A neve cercava-os.
Gostei muito do teu fim =)
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