"The evil uses very masks, but the most atrocious is the virtue"
Enquanto conduzia, grossas lágrimas rolavam pela sua face, embora ela não chorasse realmente. O seu estado de apatia era, na verdade, o mais incomodativo. Fazia aquele caminho mecanicamente, sem nunca ter pensado no que estava a fazer desde que saíra de casa.
Enquanto conduzia, pensava no que tinha acontecido. As suas malas à porta. A cara fria dele, impenetrável. Nem um pingo de tristeza, de humanidade. Nem um pingo do homem que amava. E era isso que lhe doía mais. Ela amava-o. Ela ainda o amava. E não o conseguia tirar da cabeça, por maior que tivesse sido a maldade que ele fizera.
Foi o amor que a cegou. Foi o ver nele a sua alma gémea, a pessoa perfeita. Conseguira lidar com os seus defeitos, e amava as suas qualidades. E ele retribuía. Retribuíra sempre. Ela sentia que viveram felizes. Muito felizes. Um com o outro. Anos. E nem quando ele lidava mal com situações adversas ela compreendeu a real profundidade do seu ser. Da sua máscara. Daquilo que ele escondia no dia-a-dia, e que apenas não conseguia esconder quando sentia a necessidade de se defender, ou de rápida e fatalmente atacar um inimigo.
Não, ele não era animal. Ou seria, talvez, enfim, um pouco animalesco. Defendia-se quando pressentia o perigo. E defendia-se atacando. Ela vira por várias vezes as suas explosões. E apaziguava-as. E chorava à noite, justificando-se que era apenas a personalidade dele, mas nada de grave. O amor por ele cegou o seu sexto sentido. Ela devia ter sentido.
E ele sentia-se bem. Tinha a sua mulher. Tinha uma boa vida. Tinha a vida que queria ter, porque quando não tinha lutava contra isso. Lutava veementemente, intensamente. E foi aquela carta que despoletou tudo. Ele próprio não conseguia justificar o que sentia. Era algo superior a si. Era uma crueldade que ele não compreendia, que ele não controlava, mas que no entanto o fazia sentir-se bem consigo mesmo.
E depois foi tudo o que aconteceu. As acusações, os berros, os vizinhos a vir à porta, a estalada final, uma porta a bater. Ela lembrava-se apenas de uma mancha vaga e difusa de tudo o que aconteceu. Não compreendia ainda como tinha acontecido. No banco ao seu lado no carro, a carta amarrotada que ele tinha na mão quando ela entrou em casa. Era estéril. E o seu marido reagiu com ela como reagira com qualquer outro que o tivesse ameaçado. Ferozmente. Sem piedade.
A virtude dele cegara-a. E foi assim, cega, que negou todos os sinais da forma como ele via o mundo. Da forma como ele era cruel para todos os que o rodeavam.
Enquanto conduzia, pensava no que tinha acontecido. As suas malas à porta. A cara fria dele, impenetrável. Nem um pingo de tristeza, de humanidade. Nem um pingo do homem que amava. E era isso que lhe doía mais. Ela amava-o. Ela ainda o amava. E não o conseguia tirar da cabeça, por maior que tivesse sido a maldade que ele fizera.
Foi o amor que a cegou. Foi o ver nele a sua alma gémea, a pessoa perfeita. Conseguira lidar com os seus defeitos, e amava as suas qualidades. E ele retribuía. Retribuíra sempre. Ela sentia que viveram felizes. Muito felizes. Um com o outro. Anos. E nem quando ele lidava mal com situações adversas ela compreendeu a real profundidade do seu ser. Da sua máscara. Daquilo que ele escondia no dia-a-dia, e que apenas não conseguia esconder quando sentia a necessidade de se defender, ou de rápida e fatalmente atacar um inimigo.
Não, ele não era animal. Ou seria, talvez, enfim, um pouco animalesco. Defendia-se quando pressentia o perigo. E defendia-se atacando. Ela vira por várias vezes as suas explosões. E apaziguava-as. E chorava à noite, justificando-se que era apenas a personalidade dele, mas nada de grave. O amor por ele cegou o seu sexto sentido. Ela devia ter sentido.
E ele sentia-se bem. Tinha a sua mulher. Tinha uma boa vida. Tinha a vida que queria ter, porque quando não tinha lutava contra isso. Lutava veementemente, intensamente. E foi aquela carta que despoletou tudo. Ele próprio não conseguia justificar o que sentia. Era algo superior a si. Era uma crueldade que ele não compreendia, que ele não controlava, mas que no entanto o fazia sentir-se bem consigo mesmo.
E depois foi tudo o que aconteceu. As acusações, os berros, os vizinhos a vir à porta, a estalada final, uma porta a bater. Ela lembrava-se apenas de uma mancha vaga e difusa de tudo o que aconteceu. Não compreendia ainda como tinha acontecido. No banco ao seu lado no carro, a carta amarrotada que ele tinha na mão quando ela entrou em casa. Era estéril. E o seu marido reagiu com ela como reagira com qualquer outro que o tivesse ameaçado. Ferozmente. Sem piedade.
A virtude dele cegara-a. E foi assim, cega, que negou todos os sinais da forma como ele via o mundo. Da forma como ele era cruel para todos os que o rodeavam.
Não sei se entendi exactamente o que querias dizer, mas a conclusão que retiro do teu texto é uma com a qual concordo muito: Não há nada pior do que a virtude comum da vida virtuosa.
ResponderEliminar=)
Construiste um texto completamente diferente do que eu imaginei. Mas gostei bastante do texto. Porque a virtude é a forma mais cruel de maldade e é sempre a que menos se vê, menos se acredita.
ResponderEliminarGostei!