domingo, 5 de setembro de 2010

Desafio XXXV- Resposta

Deixa-o só. Há alturas em que a dor é inevitável e às vezes o amor é so isso. Uma forma bonita e melodica de ter como reflexo o rosto da propria dor. Deixa-o só, deixa-o em paz. Se o amas, deixa-o ser livre. Se ja o não amas respeita-o, isto é tudo o que tem, esta tentativa de se tornar livre, senhor de si mesmo. Respeita-o porque ele tem o coraçao pequeno, não consegue auto-disciplinar-se o suficiente para se respeitar. Intrinsecamente.
Que importa que tenha sido amor. O passado às vezes é apenas um cemitério triste que ele visita para encarar a fatalidade de que nada daquilo existe. Que importa que ainda seja amor, ele so quer ser livre. Deixa-o ser só, não te quer aqui. Quer ser livre, quer ter como reflexo uma dor que seja só dele. Não o incomodes, mesmo que o ames. Se o amas deixa-o só. Porque no final, no final de cada dia so tem no peito a marca da dor, os dias felizes cheios de sol contigo estao enclausurados na memoria. Não que sejam inuteis, não que sejam insignificantes. Simplesmente deixa-o só, não o obrigues a visitar o cemitéro. Para ele os mortos morreram, não os teme e o amor que lhes dedica causa-lhe desgosto nenhum. Não o faças descer ao seu profundo cemitério perguntar-se se o amas ainda, se respiras ainda.Para ele os mortos morreram, não lhe quebres esta esperança. Porque é inutil, é inocuo. Não o perturbes, esta paz é tudo o que tem, é o principio de uma nova liberdade. De uma nova vida. Deixa-o só, mesmo que o ames já aqui não estas. E ele deseja ser senhor de si proprio, quer ver no reflexo do espelho o futuro não o passado.
Por isso deixa-o so. Não lhe retires esta calma tranquila que chega depois do pronuncio de morte. Não o perturbes. Não lhe cortes as asas com essa faca pontiaguda de desespero e de amor. Não lhe faças isso se o amas. Porque ele tem esta necessidade de ser maior e melhor que a memoria do que foi, tem esta fome do infinito, esta vontade de tocar o inalcançavel horizonte. Não lhe ofereças tao pouco como a hipotese de o amares depois de ele ter como reflexo todas as noites a dor a sorrir-lhe do outro lado do espelho. O que quer que lhe ofereças não chega, já não lhe chega. A tua voz, a doçura da tua voz... não que não tenha saudades apenas já não é suficiente. Se lhe curasses as saudades que tem tuas era como se preenchesses o vazio dele com algo horrivel. Era como se assassinasses a sede dele com agua salgada. Se o amas ainda, deixa-o so. Já não é suficiente, pensares que é e forçá-lo a aceitar é cortares-lhe as asas e esperares que ele voe.

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