segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Desafio XLIV -Resposta

http://www.youtube.com/watch?v=Ek4D7Rrq144

Ela disse-te, o amor por si só vale menos do que se convencionou que valeria. E não importa que a tivesses amado (ou que a ames ainda) se nunca compreendeste a genialidade da essencia do ser dela. Que importa que lhe tenhas oferecido a conquista do mundo como presente se tudo o que ela desejava era a excentricidade de uma liberdade aberta nos pequenos pormenores do quotidiano? Tudo o que ela desejava era ser livre, ser livre aqui onde ninguem é. Tudo o que ela desejava era ser ela, exponencialmente ela. Tudo o que lhe ofereceste consistiu naquilo que gostavas que ela desejasse mas o amor não se sustenta com isso.
Aínda hoje lamentas a ida sem volta dela, para longe de ti, para longe dessa realidade onde viviam os dois. E ainda hoje lamentas a felicidade dela , o alivio dela. Porque, de facto, a amaste e ela amou-te mas o amor não aguenta isso. Que importa que a amasses mais do que alguma vez amaste a realidade onde estavas preso, que importa que a amasses mais do que amaste a tua vida seria e adulta? Nada. Porque ela era discretamente genial, a forma como se ria e do que se ria era genial, era peculiar.Nunca percebeste porque é que se ria das desgraças, nunca viste que não se ria de uma qualquer desgraça. Oh não, nada disso. Ela ria daqueles momentos em que alguem anulava o pessimismo , que o tornava em pouco. Isso garantia-lhe toda a força bélica e resistente que tinha no peito e pela qual sempre a admiraste. Era porque se ria das desgraças, ela. Tornava-as pouco, explorava-as e dissecavas ate se tornarem um pormenor quotidiano como outro qualquer. Por isso é que era tao resistente, tao forte. A vida era uma aventura e se tudo for bom é um caminho vazio. A arte reside no que fazes com as adversidades que te aparecem. E ela ria-se, criticava , ironizava e ria-se. Por isso é que conseguiu deixar-te deixa-la quando a tornaste infeliz por a não deixares rir-se.
Mas tu nunca entendeste e ela sempre te disse que o amor, por maior que seja, não aguenta girar no sentido contrario do mundo. Sempre te disse que a tua vida não tinha desgraças, era perfeita, e por isso mesmo, vazia. Sempre te disse que te não sabias rir porque a vida, a tua vida, era demasiado seria e adulta e economica. Sempre te disse que “A vida é demasiado curta para ser levada a serio” e tu nunca esboçaste um sorriso pela ironia veridica nesta frase. Não, tu nunca entendeste porque é que ela idolatrava o Oscar Wilde.
E, naquele dia cheio de Sol, em que ela correu para ficar quieta a olhar fixamente para o tumulo dele, tu nunca entendeste a protecçao que ela sentia. So por estar la, no tumulo dele, sob o olhar dele. Nunca entendeste Oscar Wilde, nunca compreendeste o que a maravilhava nele.Nunca entendeste nada.
E, nesse dia, ela deixou-te , perspicazmente, deixa-la. Porque sempre foi mais estratega do que tu alguma vez foste. A vida dela não era seria, a imaginaçao que lhe escorria e cada pensamento tornou-a resistente e forte. A tua vida era demasiado seria para não ser insignificante.
Hoje, passas por ela, e magoa-te tanto como te magoou naquele dia. A felicidade dela, a iluminaçao do ser dela e o teu, cinzento baço, distorcido e tenue. Moribundo. Porque nunca entendeste que o riso é um dos teus bens mais preciosos. O optimismo verdadeiro consiste em ver a alternativa, nem que seja a mais ridicula. Não, nunca entendeste que “estamos todos na lama, mas alguns conseguem ver as estrelas.” E ela nasceu a saber isto, o Oscar Wilde resumiu um pensamento confuso dela numa frase simples.

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