sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Desafio 1 - resposta

"Enquanto puxava o cobertor coçado para cima mais um pouco, olhou à sua volta. As ruas de Lisboa estavam desertas, e frias. Era apenas a sua segunda noite de Natal na rua, e no entanto já não se lembrava como tinha ali chegado. Encolheu os ombros. Não era importante."
Porque a vida é isto, ele nasceu para ser isto. Não se lembrava como tinha ali chegado mas não era importante. Apertou o cobertor gasto contra o corpo gélido. O frio que sentia trespassava os ossos mas era-lhe indiferente.E as luzes Natalícias que o cegavam – cores demasiado fortes para a suavidade da época – não o aqueciam. Riu-se. Até a maior solidariedade inócua encontra os seus limites...
Mas a rajada de vento violento que lhe beijou a face congelou o sorriso. Ninguem o compreendeu. Nunca. Porque o amor dele é excentrico e honesto. E ele amava! O som, a melodia, a construção ritmica perfeita e simples, o extase do preenchimento do ego. A vida dele resumia-se a uma nota. Grave, arrastada, melodica,uma nunca antes ouvida...
Nunca o compreenderam. Não o deixaram viver o sonho. Que nunca foi sonho algum: o coraçao dele, como fugir a esse destino caloroso de sentir o coraçao gritar por algo? Disseram-lhe que era louco. E talvez o fosse. Mas quem não é louco não esta entre os vivos.
Apertou o cobertor contra o peito. Sempre gostara do Natal, do dissecar do verdadeiro significado da compaixão e da compreensão. Puxou a guitarra, acarinhou-a suavemente e executou os gestos que lhe pagavam a pouca comida que tinha.
Riu-se. O olhar horrorizado dos transeuntes: um rapaz tao bonito, tao jovem. Com um ar tão limpo e fino, talvez ate de boas familias... E na rua, um sem-abrigo!
Nunca o compreenderam. Mas ao menos ele agora era livre, de consciencia tranquila. A realidade projectada da alma. E no entanto já não se lembrava como tinha ali chegado. Encolheu os ombros. Não era importante.E continuou a tocar , gostava tanto das músicas de Natal!Revelam o melhor que ainda existia nele, expunham a liberdade doce que sentia.
"Só peço para ser livre. As borboletas são livres." Charles Dickens
WinGs

2 comentários:

  1. É uma pequena história de Natal =)

    É por isso que sempre respeitei os mendigos na rua. Alguns deles sabem mais do que nós.

    ;)

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  2. Sempre imaginei que houvesse uma guitarra nesta história :D

    Gostei muito :)

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