“Tempo que passas a rir é tempo que passas com os Deuses”
Não me lembro de quando deixei de sorrir.
De quando deixei de lado o riso para me concentrar em coisas “importantes” como o trabalho, o dinheiro. De quando deixei de lado o riso para crescer e ter sucesso no mundo real, no mundo dos adultos. De quando deixei de lado o riso para… sei lá, uma razão absurda qualquer.
Agora que olho para trás, acho que foi a partir daí que tudo se começou a desmoronar.
Sou um velho, gasto e cansado, que observa os netos a correr pela casa enquanto suspira, sentado na também velha cadeira, com um copo de brandy na mão. Não consigo tolerar os risos, o barulho e a correria. Parece-me tudo tão artificial, tão forçado. Como é que podem viver tão inocentes face a este mundo, que num dia ou outro os irá afundar?
Suspiro. Tornei-me um velho azedo, uma carcaça sem emoções cujo único orgulho é o dinheiro acarretado no banco. Não tenho boas memórias e se alguma vez as tive foram sobrepostas pelo trabalho e pelo orgulho. Oh, se apenas pudesse voltar atrás e trocar este frio e riqueza por felicidade e o ecoar do riso.
No meio das minhas divagações, não reparei na criança que corria na minha direcção, inebriada nas suas brincadeiras. O meu neto chocou contra mim, o copo de brandy saltou no ar, sujando roupa e estilhaçando-se no chão.
De repente o ambiente na sala ficara pesado, de cortar à faca. Os presentes olhavam-me com olhos assustados, mal se mexendo. Seria eu assim tão intimidante? Quase que podia ver reflectida nos olhos deles a faísca dos meus, aquele aviso de que uma tempestade se levanta.
Normalmente ter-me-ia erguido, de cara vermelha e esbracejado com os meus fracos braços, enquanto gritava ameaças e frases praguejadas. Teria posto as crianças a chorar, os adultos com vontade de sair. Mas não. Não fiz nada disso. Talvez tenha sido uma epifania, uma nova oportunidade.
Eu ri-me. Ri-me enquanto abraçava o meu neto surpreendido, e senti em mim um novo calor, que há muito não experimentava. Não tinha nada a ver com o calor do álcool, o calor de cobertores. Era algo completamente novo, que me fez renascer, que chamou a mim a capacidade de sentir e ser feliz.
Afinal, tempo que passas a rir é tempo que passas com os Deuses. Lamento não o ter descoberto mais cedo.
Ohhh, está muito giro, me thinks. O grande problema da nossa vida é que nos falta sempre tempo. O tempo que gastamos a trabalhar é o tempo que depois perdemos para fazer coisas que nos deixem felizes.
ResponderEliminarSeja como fôr, nunca é tarde para voltar a sorrir :)
Estar com os Deuses é estar num plano superior de consciência e prazer.
ResponderEliminarO riso é esse prazer explícito. E é nele que se encontra a consciência superior.
Por vezes, descobrem-se os nossos erros.
=)
Pessoalmente, este proverbio relembra-me o poder , o extase , o prazer máximo da libertação da gargalhada. Na purificação que isso se torna.
ResponderEliminarMas foi uma boa resposta , é bastante interessante observar uma interpretação verdadeiramente diferente .
Gostei =)